Por que assistir aos filmes indicados ao Oscar? (quando a Academia é tão blábláblá, a indústria é tão isso e aquilo, a cerimônia é looonga e chata, tem tantas outras premiações mais interessantes e tudo o mais: porque me dá vontade (de sofrer)) Quando vi as indicações previ que seria um ano fraquíssimo (só não previ que seria um ano tããão sofrível). Se sou do tipo hollywoodiana uhul, adoro os filmões enlatados e tal: não (muito). Nem pretendo escrever sérias críticas aos filmes e, por isso, vai um pacotão com todos (de fato nenhum me despertou grandes emoções ou reflexões – o mínimo exigido de um filme, certo?). Acompanhei, porém, a discussão sobre a branquitude das indicações (surpresa?) e tenho a dizer que não é a realidade do fazer cinematográfico mundial (não, não vamos restringir a crítica aos mauzudos EUA) a inclusão – nas histórias criadas nas telas e na prática profissional – de negros, índios, mulheres e qualquer outra coisa que não seja homem branco (meia-idade rico). O fazer cinematográfico é elitista e machista. Isso se estende para a Academia que seleciona os filmes, está nos estúdios e nas produtoras (grandes, pequenas, de país periférico e dos grandes centros), está nas salas de aula de cinema. Está, aliás, no nosso olhar. Na nossa percepção – porque “o mundo é assim” e, portanto, é assim que o vemos. Se já é 2016 e ainda estamos patinando nisso, pois é, não será mudado amanhã (posso livrar meu lado ranzinza aqui e demorar muito: não quero). Aí vem a solução: então vamos liquidar os velhos da votação – porque, vocês sabem, os velhos também não servem pra nada no mundo, né. Idéias geniais estão sempre presentes nessas discussões. Antecipo: não gostei de Spotlight nem The Big Short – e o que mais me incomodou foi a inexistência de mulheres (tem a Rachel minúscula e sufocada no primeiro). Vamos criticar a Igreja Católica, mas só homens estão aqui, vejam; e no mundo dos negócios, como sabemos, só homens estão à altura. Fora isso, digo que a discussão não foi o mote do Oscar 2016 pra mim.
Sabe qual é o problema? O americanismo. Ah, Fahya, não viaja, é uma premiação americana. Claro. Sou brasileira e nem por isso preciso ser adepta do “não desisto nunca”, né? Então, o americanismo domina, corrói e até enfastia a maioria dos filmes. Não sei se é porque eles estão em ano eleitoral, se é porque o terrorismo “ameaçou o mundo civilizado” novamente nos últimos tempos, se é porque eles são assim mesmo (e isso a gente sabe). Tudo soa muito americano demais – in America we all win -, essas histórias de superação e o toque meio gaúcho de melhores em tudo no mundo. Explicarei abaixo no filme por filme. No mais, senti falta do drama tanto quanto dos negros (e os filmes com mais negros no elenco e produção são, aliás, os que mais investiram acertadamente no drama – Creed e Straight Outta Compton). E sou daquelas que daria o prêmio pra um filme que nem foi indicado para tal categoria (como vocês poderão perceber).
Se assisto aos do César, do Bafta, Sundance, Berlin, Cannes? Também (como aos do Oscar, na medida que consigo no submundo). E meu coração só se encontra nos filmes franceses, fazer o quê.
1. Brooklyn: Primeiro filme indicado que assisti (ano passado), antes das indicações e juro que nem me passou pela cabeça que era “filme pra Oscar”. A Saoirse está excelente – de menininha desvalida que mora num buraco à mulher classuda novaiorquina. A personagem é irritante (engana na cara dura o mocinho italiano – apesar do romance desinteressante dos dois). A história é boa, mas nada de mais. Achei que era filme inglês pra TV (sério). E, tcharãn, o americanismo: a velha história da formação do povo americano, Nova York o coração bondoso do mundo que recebe todos de braços abertos, onde quem não era ninguém terá sucesso e vida boa ao construir esta nação prodigiosa! Nem importa as pequenices do drama (se ela abandona a mãe e o lugar que lhe é tão familiar; o mocinho, também estrangeiro que luta pelo seu pedaço de terra e pelo futuro próspero), sobressai a magnitude de uma Nova York novinha. Ponto por ser uma protagonista mulher, mas não dá pra valorizar por ter drama na medida certa porque ele é feito de drama. (repensando, acho que peguei pesado, o filme é bom, mas, sei lá… não é grandioso)
2. Sicario: Meu Deus, me larga, um filme com o Del Toro! (já tem mais um com ele pra assistir e, bah, olha a má notícia: ele foi confirmado no próximo do eterno Star Wars: me sujeito a muita coisa para vê-lo, mas passarei) Eu a louca esperando conseguir esse filme (mas credo tem a chata da Blunt e seus olhos de peixe morto). E o americanismo, neste caso, não ficou pro fim: EUA se achando o bom (não falei?) e entra de boa no México pra resolver os problemas que eles bem entendem. Filme com policial americano já cheguei na saturação (agora só série por motivo de JLo). Decepção total com o personagem do Del Toro (mas duas horas vendo-o gostoso maravilhoso e cobiçável em alto grau) e a história se resumia a: vingança pessoal. Tem dó de mim um roteiro desses. Mas, dou o braço a torcer: Blunt está sensacional. Além das notas sobre a personagem (banho, magreza), ela fez um trabalho brilhante e aí é a primeira decepção com as indicações. Merecia concorrer. O estado miserável que a criatura alcançou no filme é digno de atriz que não tem estrelismo na cabeça (não estou falando na Jennifer Lawrence, juro, pois falarei mal dela mais a frente) e se “sujeita” (para muitas é isso) a um papel desses. Ficou só em categorias técnicas e Fotografia (sério, gente? Troca por The Danish Girl, ainda dá tempo, Academia).
3. The Revenant: filmão, né? Tu começa a assistir e “uou!” e eu pulava no sofá e “Dou direção! Dou fotografia! Dou pro urso!” (os prêmios, claro). Nem tinha saído a lista da Academia, só o mito que o filme já vinha há anos construindo sobre si mesmo. Até quem não é ligado em cinema ouviu alguma história. As condições da filmagem, o tempo do projeto (acho que li sobre há mais de dois anos). E o povo que chorou com Titanic a “Agora vai!” pro Di Caprio. Bem, eu ri em várias cenas. O Di Caprio faz um personagem meio (?) azarado. Quando ele tem o encontro fenomenal com o urso eu cheguei a pensar “mas vai morrer aí, e o resto do filme?”, pensei que seria uma coisa meio estoniana (ver 1944). E o urso? Sequência sensacional! Digna dos anais da História do Cinema. (e eu nem uso muito ponto de exclamação, pelo menos não quando escrevo) Aí o Di Caprio passa metade do filme quase morto jogado numa padiola. Acho que não será por isso que levará um Oscar, né. E quando ele cai do penhasco? Dei uma gargalhada. Falei, personagem azarado. A Fotografia é linda, a direção a gente conhece. Mas aí o filme acaba e pá: cadê a história? Segundo li, talvez a culpa seja da adaptação. No original envolvia a disputa por um rifle francês, no filme é a vingança pelo filho mestiço assassinado. Bem, o filme não prima pela história (não recebeu indicação de Roteiro). 1º: o cara anda pra lá e pra cá com gente que odeia… índios (e pro americano índios e mestiços dá no mesmo); 2º o cara quase morto pelo urso é deixado com… o mais sanguinário e que já deixou claro que não faria nada para salvá-lo E odeia índios e mestiços (very clever indeed). Aí já está acabada a história e a peregrinação dele para conseguir se vingar é uma sucessão de cenas bem dirigidas e bonitas – e só. Gostei do que li numa crítica colombiana, sobre ser apenas um exercício estético (visual) e deixar a desejar em tudo o mais. No dia seguinte ao filme, fui pegar um livro para ler e acabei com A Grande Solidão, da querida Janet Dailey. E não é que é sobre a exploração nas regiões de caça para pele nos EUA? Pois é. Não gostei, também, do discurso do filme, a inclusão proposital do personagem mestiço para mostrar um americaninho bom que teve filho com índio e defendeu a honra da mulher e do filho – visão super atualizada da realidade entre americanos e nativos da época – atualizada até demais. Aí está lá o Di Caprio fazendo discurso pelo meio ambiente, se encontrando com o Papa e tal. Só digo uma coisa: não coube. O americanismo aqui (apesar de um filme dirigido por mexicano, o que causa um baita estranhamento) é reescrever a imagem do heroísmo americano na conquista e povoamento da terra, no contato com os nativos (eles matavam, estupravam, dominavam e escravizavam os nativos que conheciam onde e como conseguir as melhores peles – um comércio valorizadíssimo à época -, numa atitude bem mais desrespeitosa do que a dos russos – que nem aparecem e coisa que muita gente desconhece). Diabolizaram o personagem do Tom Hardy (Sttalone na disputa, fica pra próxima, Hardy) sendo que ele, tenho pra mim, encarna o personagem real da situação. Mas daí a um roteiro e um diretor (americano?) fazerem um filme mostrando que a chegada dos americanos em boa parte do território “deles” não foi uma belezura, quando será? Mulheres? Oi, onde? Só como estuprada, mãe e em poucos segundos de imagem, claro, que história de conquista de terras é coisa de… homem.
4. The Hateful Eight: uma missão ficar acordada acompanhando os eternos diálogos (“ah, mas Tarantino é verborrágico” – verborrágico é uma coisa, isso aí é outra). Nas aulinhas de escrita por aí você ouve sempre a regra de que você precisa de ação, que as coisas aconteçam (tanto no roteiro, visualmente, quanto no romance ou no conto), precisa mostrá-las – o oposto do contador de histórias, aquele antigo, que só contava, que só diz a história (aquela que fica melhor com “e”). E aí temos o que dizem que a gente não deve fazer, cada personagem leva horas contando quem é, o que fez, porque está ali e etc, etc, etc. A idéia, o argumento, muito bons, a fotografia excelente (tô em dúvida entre ele e The Revenant, ainda ficaria com ele porque The Danish Girl não foi indicado), a trilha sensacional (Morricone, o Oscar é teu), atuações brilhantes (tudo de se esperar – e fica a questão: por que só a Jason Leigh foi indicada?). Novamente, história de “velho oeste”, óbvio que é coisa de homem, mas o conflito gira em torno de uma mulher criminosa e nem assim ela é a protagonista do filme – sério, né. Não saberia comentar o americanismo (talvez eu tenha dormido nessa parte), se lembrarem, só me dizer. Não sou fã do Tarantino e acho que ficaria um filmão se fosse reescrito sem os salamaleques dele.
5. Bridge of Spies: Tem Tom Hanks – e ele sabe escolher os filmes nos quais trabalha, por mais bobos que às vezes possam parecer. Filme bom, talvez o melhor exemplo do americanismo. Sério, os EUA são os bonzinhos que não fazem mal ao espião para poder, como sempre, salvar o mundo. E o Tom Hanks encarna o americano comum que se torna… tcharãn: herói! Sim, porque ele vai até aquela muvuca que é a divisão da Alemanha à época para salvar não um, mas dois americanos. Achei meio problemática a inclusão da história do estudante e do aviador, a do estudante foi uma coisa completamente jogada no meio do roteiro (sem chance de levar). Rylance está muito bem (se não fosse o Stallone, ele levaria). Os concorrentes de Design de Produção são fortes, mas eu fiquei particularmente inclinada por ele. Até porque seria a única categoria relevante, e ainda pegou fortes concorrentes (bobagem, é que eu gostei mesmo da Produção). Um Spielberg mediano como tantos dos últimos, sempre com uma boa história, mas que erra a mão em pequenices que a gente tem que lamentar. Ah, além do americanismo, o excesso de homens: pois, claro, Fahya, história de espionagem e alto escalão governamental no pós-Guerra, só tinha homem mesmo (li críticas sobre o pouco espaço que a esposa do Tom Hanks recebeu no filme e concordo). Mérito: acentuou o drama familiar (o final é essencial), coisa que precisava e que faltou em outros filmes (The Martian, um fracasso). É tão linear na sua americanidade que nem conseguiu muita relevância em nada, uma pena.
6. Trumbo: É assim que se faz filme. O pessoal de Spotlight e The Big Short aprenderiam algumas coisas com o personagem (real, o Trumbo) e com este filme. Pesa contra mim que gosto muito dos filmes sobre o mundo cinematográfico (Heil, Cesar!, tô te esperando), mas o filme tem tudo o que um filme precisa: conflito, drama (inclusive familiar – não menospreza esta relação (The Martian, não te deixaremos em paz)), bons e fortes personagens. Helen Mirren está ótima, mas nem adiantaria concorrer (nosso coração é da Alicia). Até os personagens estão bem definidos e não fica aquela sensação “pô, mas é coadjuvante?” (Alicia again). Sei que o povo é fissuradinho no Cranston, e até acho que ele mereceu a indicação (o filme merecia ao menos a indicação de roteiro), mas a concorrência está forte (exceto Damon, claro). Americanismo? Às avessas, por um lado, pois a “caça às bruxas” e a neurose americana é colocada em cheque – mas aí ele é herói, e vence apesar das vicissitudes da vida e da carreira (mas o americanismo aqui se apoia na própria teoria do herói e do roteiro, então ameniza e a gente faz que não vê). Aliás, os filmes roteirizados por ele valem a pena (pesa muito mais contra mim que sou fã da Era de Ouro de Hollywood).
7. 45 Years: filme para passar raiva. Foge, é claro, ao Hollywood, às convenções de ritmo e drama. Não tem americanismo (não é americano, dã) e nem excesso de homem. Aí já está o grande mérito do filme. Uma ilha no meio de todos esses. Pena que é história de casal (HAHAHA minha eterna implicação com historinhas de casal, sorry, sociedade). Rampling merecia o Oscar só por ter feito o filme, aguentado aquele personagem como marido. Mas a concorrência está forte (exceto a adoradinha de vocês, Jennifer). Durante o filme eu dei mil opções de como ela poderia matar o marido e se livrar daquele encosto (mas ela não aceitou nenhuma e ainda foi pra festa – a cena final é maravilhosa!). O drama, baseado no conflito da carta que chega com um passado que sempre foi presente, a sutileza das descobertas dela sobre uma vida inteira de mentira e enganação: que roteiro! Nem vou contar muito porque o filme vale ser assistido – inclusive a tensão da espera para que algo aconteça, sei lá, que eles embarquem na viagem para achar o corpo congelado, que eles se separem, qualquer coisa: e aí, a dose realista ao extremo, nada é feito, nada acontece, mantêm-se as aparências, a festa acontece e, pá, a última cena (quem é casado vai entender bem). Acho que a Rampling não leva e diante dos fracos indicados a roteiro, este seria um bom candidato.
8. Mad Max: acompanhei todo o bafafá dos fãs quando foi lançado e por nada me interessei em assistir (até vi textos escritos na inspiração pelo filme). Quando foi indicado a tanta coisa, me obriguei a assistir. Putz, aturei com pesar 47 minutos de filme e lamentei muito ter perdido todo esse tempo da minha vida (pára e pensa tudo o que dá pra fazer). Quem aqui na minha platéia assistiu até o final e gosta e entende desse tipo de filme comentou: simplório. Até entendi quando li que o storyboard foi feito antes do roteiro (que não há). Entendo também que vocês são fãs, tem aquela coisa do culto e tal, mas, né, nossos heróis sujam os pés de barro e a gente tem que aceitar (tipo eu com os filmes ruins e péssimos do Del Toro, gente). Difícil entender colegas de cinema pagarem pau por essa chateação. Ah, mas o foco foi nas mulheres, você não estava falando do machismo? Ah, mas esse tinha a perspectiva de construir alguma coisa, não só destruir. Pois é, mas diante de tanta coisa ruim e fraca, esses poucos (supostos) louvores não lograram êxito. (tô falando como burocrata pra me referir ao filme) O filme é ruim. Talvez a indicação de protagonista (no lugar da Jennifer); está no páreo para Design de Produção e alguma técnica de som, mas se não estivesse não faria falta. Um dia me expliquem: se o mundo estava destruído, de onde roupas, pneus, munição, motores e tudo o mais que exigiria plantações e indústrias – em desenho animado a gente dá uns descontos na lógica.
9. Spotlight: pois é. Aí teve uma sequência de filmes chatos, intermináveis e com problemas (mas que têm ganhado todos os prêmios) e Spotlight foi o primeiro deles. Entendo a questão da pesquisa para este roteiro, mas aponto duas coisas: 1. excesso de personagens que deixam tudo embolado, é o juiz isso, o padre aquilo, o fulano e o beltrano que a gente só ouve falar (e, posteriormente, um ou outro aparece), causa uma confusão que torna a história chata; 2. é filme “contra” a Igreja Católica, então, é claro, conta com a simpatia e o furor de muita gente (inclusive inúmeros críticos de cinema, em especial aquela leva de esquerdistas, libertários e afins), mas, sério, a questão do estupro e da pedofilia na Igreja já foi tratada à exaustão em tantos meios e nem estamos mais no olho do furacão, então o filme me pareceu deslocado temporalmente (pouco antes de postar este texto, li que Escorel também comentou isso) (mas os odiadores da Igreja adorarão). Novamente, a questão do drama. O filme prefere focar na redação do jornal, no trabalho de investigação, e deixa a desejar no que poderia angariar a simpatia do espectador: o drama vivido pelas vítimas. São poucos momentos dedicados a elas, com atores medíocres, resvalando no lugar-comum (tanto em direção de cena quanto no depoimento em si). Eu sou católica, não apóio nem concordo com a postura da Igreja em esconder os crimes, mas o filme não me sensibilizou: se eu ouvisse mais, ou visse a história pelo viés das vítimas, aí sim teria despertado a minha sensibilidade (e de milhões de outros católicos). Também li que os autores encontraram o ponto forte da narrativa quando descobriram que o próprio jornal fora indiferente à denúncia anterior, mas nem isso foi bem usado no roteiro, porque a gente entende que houve essa falha, essa omissão, muito tempo antes dela ser “revelada”. Americanismo? Claro, os detentores da alta moral e dos bons costumes a criticar uma igreja antiquada, violadora, anti-liberdade, do Velho Mundo onde se protegem criminosos (um americanismo que vai ao âmago da pretensão deles, talvez o pior americanismo presente em todos estes filmes). Redação do jornal e tudo em volta só tem homens, novamente, (vão dizer que jornal é assim mesmo?) e só tem a coitada da Rachel lá no meio com um papel muito meia-boca e de longe uma atuação fraquíssima dela (nem precisa ir muito longe: Southpaw). Mas ninguém tem chance com a Alicia este ano. Deram pra ela a incumbência de dois momentos importantes do filme, o depoimento de um abusado e o encontro com um padre abusador – e é tudo tão breve, pasteurizado, contracenando com ator que parece estar lá pra cumprir função. Além do momento que seria crucial, quando ela e o Ruffalo (conseguiram rejuvenescê-lo cortando o cabelo, a barba e dando aparência de limpeza, porque nos últimos que vi com ele a coisa estava acabada – homens deveriam aprender essa) tem aquele encontro na varanda, sobre a dificuldade de ter sido criado como católico e trabalhar naquele caso – e a cena é superficial, indiferente. Faltou drama, acho que é isso (nem a esposa do Ruffalo aparece, que poderia amparar o personagem no drama vivido por ele). Faltou qualidade no roteiro (quem sou eu para dizer se ele ganhou BAFTA, Sindicato dos Roteiristas e tal, né). Talvez Direção e Edição, por falta de concorrente. (os dias passam e só comprovo a minha teoria: a fama e o bafafá todo ficam MUITO a cargo da cruzada (rá!) contra a Igreja Católica que intelectuais, religiosos de outras crenças, humanistas, estudantes de gênero, povo da esquerda, ateus e tudo mais que aí couber travam contra a instituição e a fé – além dos seus representantes e praticantes; o povo assiste e diz “é bom” mas aí deslancha a falar mal da Igreja, de casos de abuso que conhece, e tudo o mais, sem se referir ao filme em si; ponto pra produção, pois falar mal da Igreja ainda dará ibope por séculos, o filme, porém, será esquecido depois de amanhã, podem observar)
10. Room: a grata surpresa. Eu esperava um suspense e o mais acertado foi apostar no que eu tanto reclamei dos outros: o drama. Tremblay merecia todas as indicações. Larson está tão dentro da personagem que fica difícil a gente achar excepcional (mas por mim, leva). Eu quis implicar com o roteiro, que se divide entre o tempo do cativeiro e a volta ao mundo exterior. Mas não posso. Há sensibilidade em aderir à mente dos dois (Jack e Joy) e nos levar pelo mundo visto por eles. Por isso também que Abrahamson é dos meus favoritos para Direção (não tiro todos os méritos já provados e comprovados do Iñarritú, facilmente o mais “qualificado” para levar), não por ter feito algo extraordinário, mas por ter alcançado o tom exato do roteiro. Vai além do drama, constrói um mundo (e não seria essa a essência do cinema?) pelos olhos daquele menino e daquela menina que tornou-se mulher também naquele mundo – e não neste. Talvez meu favorito também para melhor filme. Pelo mérito também de não ter americanismo, partir da visão particular da mulher e da criança (não tão raro no cinema, mas quase sempre filmes muito especiais), não levantar bandeiras ou ter falhas desfavoráveis no roteiro ou, ainda, parecer apenas uma aventura visual. Acerta onde todos os outros deixam a desejar. Talvez só em adaptação eu esteja na dúvida com Brooklyn.
11. Ex Machina: Alicia, menina, não tem corpão, não tem carão e é boa, hein? Discreta demais aqui para esbanjar e roubar a cena em The Danish Girl e candidata a futura queridinha. Não lembro de já tê-la visto e sou muito ruim em guardar nomes. O filme é bom. Por mim, leva Roteiro Original. A idéia é original, os protagonistas são medianos, mas não se prolonga em chatices e ainda acerta no final. Ficção científica? Não sei, mas até lembrei do Ray Bradbury e só por isso já sobe no conceito. Efeitos Visuais infelizmente não posso indicar por motivo do Urso. Três atores, um roteiro, uma locação e alguns efeitos visuais e consegue o que muita superprodução não chega aos pés (sim, tô falando de Mad Max, diretamente, e tantos outros indiretamente). Este ano conseguirei assistir todos os longas (documentários e animações inclusive, exceto Star Wars por motivo de não quero), normalmente não consigo, mas dou preferência para indicados a Roteiro e Fotografia, sempre as melhores surpresas (Nightcrawler, nunca esqueceremos). Não subestimem um bom roteiro.
12. Mustang: talvez o mais controverso dos indicados – desde o país de origem. Li algumas coisas curiosas a respeito, além da cansativa discussão, como apontado pela diretora, sobre ela ser turca, o filme é uma história turca, mas indicado pela França. Li duas críticas brasileiras, uma de crítico alternativo independente e outra de jornalão. Ambas demonstravam um senso raso de cultura (pra dizer o mínimo). O primeiro se referia ao exotismo do tema apresentado, como uma Turquia que não existe; o segundo apontava maniqueísmo na coerção de usar do sentimentalismo para angariar a simpatia do espectador (o tom da frase é proposital pois o linguajar do crítico deve ser ridicularizado também). Eu assisto novelas turcas e filmes turcos (até os mais comerciais). A Turquia é aquele pedaço de terra perdido entre o Ocidente e o Oriente e depois de tantos domínios ainda não firmou sua(s) identidade(s). Mas é, sim, um país muito machista que usa dos meios audiovisuais para incutir alguma aceitação na cabeça das mulheres (através de narrativas muito bem escritas, personagens e atuações fortes, superproduções). E aí é louvável que uma diretora turca, criada e estudada na França (o berço da liberdade, lembra?), volte seus olhos para o drama de cinco meninas turcas que personificam o linear turco entre Oriente e Ocidente e, a partir de um conflito (a reprovação do contato pornográfico – assim visto – com os meninos) simples, desenvolve uma história angustiante. Os códigos e procedimentos são claramente expostos e para qualquer mulher ocidental do século XXI emancipada é puro sofrimento e empatia em cada cena. O ponto alto é o caminho do suicídio de uma delas, tão docemente tratado, enquanto aqui não tem americanismo e os homens são colocados no seu devido lugar (machistas, opressivos, centralizadores) pela Lale, verdadeira heroína que supera traumas e desilusões para salvar a irmã que lhe resta. Se fosse uma novela turca, seriam todas casadas com maridos criminosos, estupradores, violentos e opressores de todo tipo, mas aprenderiam a amá-los loucamente. E isso o Ocidente talvez não tenha entendido muito bem (apesar de que não somos assim tão diferentes, vide as vidas que conhecemos e, como estamos falando de cinema e Oscar, o próprio 45 Years). Não assisti nem consegui ainda Saul Fia e El Abrazo de la Serpiente, mas dentre os outros, de longe meu favorito. É filme para ser visto não com os olhos de “ó, aquilo é exótico, é exceção, é coisa de gente não civilizada” porque a violência contra as mulheres em si não difere e não faz distinção entre Ocidente, Oriente, Primeiro ou Quarto mundo. (Extra: o crítico independente, quando foram anunciados os indicados e o queridinho brasileiro Que horas ela volta? ficou de fora, fez uma crítica ao filme colombiano, dizendo achar que já tinha passado o tempo de termos filmes latino-americanos louvados pela nossa pobreza em prêmios “lá fora” (atualizado: li hoje, antes de publicar o post, o crítico independente que agora assistiu ao colombiano: só faltou soltar palavrões) – achei tão uó, pois muito patriotismo nessa babação pelo filme da Regina Casé, onde que ele não é o latino-americano mostrando sua pobreza em festivais pelo mundo? Onde? Mais: fiquei super feliz com a indicação, pela primeira vez, de um filme colombiano (eles estão exultantes, foi aclamado em Cannes e tal), apesar de ainda não tê-lo visto, mas brasileiro é essa coisa rançosa que não se considera latino-americano e prefere fazer bico porque um filminho dele “perdeu” pra um hermano. Somos lamentáveis.) Em tempo: Labirinth of Lies deveria ter sido indicado e, sim, fortíssimo concorrente (bem do jeito que americano gosta), dos meus favoritos, inclusive.) Mas, pelo currículo de levar todos os prêmios, Saul Fia levará.
13. Theeb: bom filme, como 45 Years, a gente sente a mudança no ritmo e no tema das narrativas em referência aos americanos. Mas, o cinema do Oriente Médio já mostrou muita coisa melhor. Há uma naturalidade nos atores que sempre me fascina. Eu tiraria aquela sequência do posto da polícia e acentuaria (talvez, mas talvez seja meu ocidentalismo) a presença do trem e o consequente fim dos guias dos peregrinos – achei interessantíssimo o mote. Reparem na sequência do menino tirando a bala do criminoso e comparem com o Matt Damon tirando de si mesmo o metal que o feriu (tal qual a bala) – realismo versus heroísmo falso. Não acho dos mais fortes para levar. Mas também o do ano passado (Ada?) não era e levou. Não sei de nada. (crítica brasileira rendendo glórias ao filme, deve ser só porque é do Oriente – mais: parece que a intenção do diretor era fixar no menino e no seu desenvolvimento e não na questão “da época”, então, muito bem; baita produção, pelo que li)
14. The Martian: ruim, chato, interminável, com sérios problemas de roteiro, de efeitos visuais, um Matt Damon nos seus piores momentos (que não são difíceis), trilha óbvia, um porre sem a delícia do álcool. Preciso falar mais? Americanóide até o talo, colocaram a chefe da missão mulher porque óbvio eu ia dizer “só homem! só homem!”. A gente sabe quando autores colocam mulheres só por “cota”, não pensem que nos enganam. Queria que ele tivesse morrido em marte lá pelo décimo sol e já estaria de bom tamanho. Peguei antipatia até por batatas (sério). O que é o efeito visual, logo no início, da tempestade na qual ele é atingido? Que porcaria é aquela? E aquele foguete com uma lona (uma lona, gente) na ponta? E personagens que surgem do nada como o indiano matemático? Mas tenha santa paciência. Não deu nem pra dormir porque estava todo mundo tão indignado que era um tal de perguntas e comentários (depreciativos) durante todo o filme. Li uma entrevista com o autor do livro e o roteirista, sobre o processo de adaptação. O autor publicou o livro pela internet e gostaram da história (pelo que soube). Onde estavam os pais do Matt Damon? Por que chega a aparecer a família de outros da nave e dele nada? Cadê aquele drama que a gente gosta, dos pais exigirem da NASA que eles busquem o filho deles? E aquele no sense de mostrar “o mundo” todo na expectativa do resgate dele? E ele reclamando (mil vezes) das músicas da colega – ele foi o único que não levou? Acho que é isso, se ao menos o personagem tivesse carisma talvez alguma coisa se salvasse, mas não. Porque até hoje nunca – mas nunquinha – ouvi alguma mulher (ou homem) dizer que o Matt Damon é bonito gostoso (e olha que já vi mulher louca até pelo Nicholas Cage). Sobre as indicações, tem relevância em Design de Produção e talvez alguma técnica de som, mas eu não daria nada. Mais um que se não fosse pelo Oscar eu nem teria assistido. (reli e fiquei com vontade de falar mais mal ainda)
15. Inside Out: não sou nem fã nem profunda conhecedora de animação. Indicação por roteiro: sim, o argumento é bom, mas para um curta. Aquela peregrinação da Alegria e da Tristeza de volta para a “sala de controle” é longa demais, chata e repetitiva. Não merece roteiro, mesmo com concorrentes meia-boca. E, particularmente, não entendi o tanto que o povo adorou o filme. Em relação à animação: até agora só assisti Shaun, The Sheep Movie e entre os dois já dou para este. Tenho para assistir os outros e tentarei fazê-lo antes da premiação.
16. Straight Outta Compton: eu aprendi a gostar de assistir a um filme sobre a história de alguém, alguma coisa, da qual não conhecia nada. Então, para quem é fã talvez seja mais fácil apontar problemas em filmes biográficos. Não é o meu caso e só posso dizer: como filme eu gostei bastante. O americanismo fica por conta das histórias de superação, pelo negro pobre que fica rico – com um baita porém do “a que preço”, no que o “retorno” deles quase no final dá uma boa resposta. Mas é história de negros da periferia, novamente só homens, e como o americano é, sim, racista pra caramba. Eu dizia lá no início (acho que eu disse reli agora e: não disse, não), o excesso de americanismo não consegue velar seus preconceitos, aí sobra pro índio, pro negro, pra mulher. Ao final do filme fiquei meio nhé com a produção do Cube porque soou como filme institucional (e filme institucional eu tenho pavor desde que assisti a A Carne é Fraca – não tem putaria, é sobre bichinhos sendo mortos). Mas tanto quanto a história deles pode servir (e acredito que sirva mesmo) como modelo e exemplo (do que fazer e não fazer) para milhares de negros da periferia que ainda hoje sofrem o que eles sofreram (tal qual os negros das nossas periferias), acho que seria pouco provável que alguma grande produtora ou algum grande estúdio se interessasse – e logo viriam os “amenizadores” entre roteiros, atores e direção para tornar tudo palatável ao grande público. Gostei do roteiro, mas Ex Machina ganha pela simplicidade. Indicaria o ator coadjuvante que faz o que morre de AIDS, todos são excelentes atores, mas ele ganhou o filme – mais uma injustiça nas indicações. E daria um parabéns para iniciativas como essas porque eu que não entendo nada de rap nem nada conheci e gostei bastante – e, sim, o filme era rechaçado na hora de escolher porque todo mundo aqui torcia o nariz “ah, história de rap?”. Pois é. Preconceito há em todo lugar. E o cinema quebra muitos deles. (depois de assistir a Miss Simone, um baita par representativo dos negros americanos, hein? Achei bem colocados.)
17. Creed: daria roteiro, além do Sttalone. Foge um tanto ao americanismo e ao excesso de homens (apesar de ser uma história centrada neles). Tem a dose certa do drama, a mulher que adota o filho da amante do marido, a namorada surda, o encontro entre o protagonista e o Balboa, o drama a ser vencido pelo Balboa. E a idéia é muito boa, é meio metalinguístico, né? Balboa torna-se um personagem da ficção que surge como real, tipo um Sherlock Holmes. Não sou entendida nem nada no Rocky (falha minha, eu sei), mas o Sttalone está muito bem, aquele tipo de coadjuvante que a gente pergunta, “mas não é principal?” (Alicia, oi). Gostei do filme e foi o segundo filme de boxe no ano que eu gostei (Southpaw por motivo de Jake), é um esporte de periferia, do pobre americano que tem a chance de ser alguém na vida (fica claro em Southpaw e tantos outros), mas Creed nem usa isso porque o protagonista tem uma boa condição (larga o emprego estável) de vida por causa da mãe adotiva, então o roteiro não precisa patinar nisso. Não acho que o protagonista (Michael Jordan, nome de jogador de basquete ou estou enganada?) merecia mesmo indicação, mas a mãe dele deveria ter mais tempo no filme. Pois é, quem diria, eu elogiando filme de boxe e com o Sttalone.
18. Joy: não há glamour em uma pobre endividada que inventa um esfregão (e o problema do filme é tentar isso). Nem colocando a Jennifer Lawrence. Agora posso falar mal dela, só dela (além de tudo que já meti o pau nas linhas acima)? Não sei o que vocês vêem nela, sorry. E está provado quão insuportável é Jennifer Lawrence + Bradley Cooper + David O. Russell – nem preciso mencionar o americanismo doloroso que exala isso daí, né. De Niro e Rossellini ali num desperdício vergonhoso. E o filho dela que some durante o filme? Ah, gente, não dá. História de superação, com o americanismo do we can o tempo todo, mesmo levando golpe (mas aí não é que o americano é ruim, é só que precisava de um vilãozinho para mostrar ainda mais a superação dela). Joy, três filmes com este nome de personagem (Inside Out e Room), e sendo a Jennifer, aguardo notícias de muitas crianças batizadas. Chato, inconstante (começa meio fantasia, com as esquizitices dos personagens, da casa, do mundo dela quando criança e depois tudo normalzão), e ela só foi indicada porque… é ela – e a Academia e vocês a amam. Por mim ela não leva por ser ela e porque tem a Cate e a Brie no páreo (sem desmerecer em nada a Saoirse e a Rampling).
19. The Big Short: fiquei encasquetada com este e Spotlight. Não devo entender nada de roteiro (ou sou antiquada, conservadora, essas coisas). Achei chato. O tema é chato e técnico demais, as atuações beiram o ridículo, edição e direção com aquele excesso de explicações são cansativas. Por que no começo tem aquela baboseira meio Michael Moore para explicar e entreter (e parecer engraçadinho) e depois esquecem? Aquela mulher na banheira, gente? E depois as explicações vêm como no dicionário. Sério, se você precisa parar o teu filme a toda hora para explicar alguma coisa, algum termo, algum acontecimento, então o teu filme tem problemas. Porque eu tenho que assisti-lo sem precisar de uma mão ali me guiando e explicando o que obviamente nem eu nem milhões de pessoas conhece. Vejam Straight Outta Compton, precisou de quadros animados editados de explicação de alguma coisa? Não. É um filme que até uma branquela sulista latino-americana mediana como eu entende. Eu não quero assistir a um filme que mostre que eu sou burra. E o que são os atores? Parece que estão num circo o tempo todo com saltinhos e gritinhos e olhares enviesados. Como Spotlight, fica confuso (ou talvez eu que seja muito burra, dirão vocês). Pra mim, não funciona como filme. Tem 99 Homes sobre o mesmo fato e já o tenho aqui para assistir e comparar. O filme não tem nada de drama, tem o americanismo chato de Wall Street e só homens homens e homens (a esposa do Carell quase não aparece e tem a que é chefe de alguém lá – não lembro, sério). Eu disse, o que mais me incomodou foi esse excesso de americanismo em filmes chatos que todos juntos, então, me desanimaram muito. Claro que não entendi as indicações e não daria nenhuma. Deve ser porque sou burra, só pode. (tô relendo para ler atualizada a lista e: chato demais)
20. Carol: chato, chato, chato. Bobo, infeliz. Ah, e o maior problema é simples. Ver o passado com os olhos do presente. Não tem conflito, sério. Rooney Mara com aquela cara de biquinho sou boba, inocente e não sei de nada o tempo todo (como sempre). A questão crucial de, num drama de época, expor o homossexualismo feminino foi diminuída vergonhosamente. Se queria romance, então que voltasse os olhos do roteiro e do espectador para isso – e mesmo assim ficou devendo muito. É tudo amorfo, sem gosto, sem expressão. Não merece nada, só a Cate Blanchett com um corpão e a cara de diva hollywoodiana do século passado. Gente, como essa mulher alcançou isso tão bem? Nem tanto pela atuação dela no filme, ou pelo personagem, mas ela encarnou isso. Tá linda, querida. A gente nem presta atenção no filme, na história bobinha, só nela, suas caras, bocas e gestos e pensa: nasceu na época errada. Rita Hayworth te odiaria. (lembrei depois: as duas viajando de carro pelos EUA, não nos lembrou Lolita?)
21. The Danish Girl: juro que foi mais um renegado na hora do “o que vamos ver hoje?”, juro que deixei por último (foi penúltimo porque perdeu pro Steve Jobs). E digo com alegria que gostei muito do filme. Foi uma grata surpresa. Eu torcia o nariz quando lia que era uma bandeira dos movimentos LGBTS(etc) porque, como eu disse, tenho por filme que levanta bandeira a mesma antipatia do que por filme institucional. Mas é tudo tão lindo, tão bem-feito, tão esmerado, tão delicado (e tem a Alicia quase que o tempo todo) que eu gostei. Não conhecia a história das personagens reais e depois do filme pesquisei na internet. Fiquei meio cismada com a adaptação (a partir de um livro que foi “inspirado” no diário dela) porque, pelo que eu li, o roteiro cria bastante coisa e aí pensei se não seria melhor um filme que não usasse os nomes das personagens reais e só se anunciasse inspirado nelas. Mas, quer saber, adaptação e criação de roteiro tem isso mesmo e talvez eles tivessem as suas justificativas. No dia que assisti saiu uma crítica do filme num jornal acusando-o de ser conservador: então taí, deve ser por isso que gostei. Mas, vamos ao filme. Alicia Vikander rouba a cena, abusa da gente, nos leva no vai e vem de emoções de uma jovem mulher casada que vê uma brincadeira ousada abrir as portas da percepção do marido. O figurino é lindo (leva fácil), a fotografia é a mais bonita e bem-feita de todos os filmes que assisti para este Oscar (e nem foi indicada). Redmayne, eu não teria te dado o Oscar ano passado (o pavor que eu tinha daquele físico prejudicou minha avaliação do trabalho pois só a fez aumentar), mas por mim pode levar o segundo. Ele conseguiu o oposto do trabalho anterior, neste ele precisa da sutileza, ele precisa desaparecer na própria pele, no papel do físico ele precisou sair de si, agredir o nosso olhar, atravancar-se. De tanto ele precisar desaparecer na própria pele é que a Alicia cresce, torna-se seu amparo, seu entrave e, ao mesmo tempo, seu ombro amigo. Aquela menininha insinuante na cama com o marido se transforma numa mulher com a dúvida e a dor nas lágrimas. É lindo. Como é linda a descoberta, que a gente acompanha aos poucos, dele como Lili. Achei que o filme resvalaria para o lugar-comum quando ele sente a maciez das meias e do vestido no dia que posa para a esposa pela primeira vez, mas não. Ele começa a observar o mundo das mulheres (a cena dele observando os trejeitos de uma mulher na feira) e isso é que desperta nele o que talvez nem ele tivesse notado. Não conheço nem entendo o mundo das transexuais e afins, mas o filme foi capaz (sem precisar de quadros e telas explicativas, entendeu The Big Short?) de exibir este processo de redescobrimento – em especial a cena perfeita quando ele coloca o pinto no meio das pernas (desculpem, não soube como colocar de outro jeito). Não sei o que há da história real no caso do amigo de infância Hans (me larga, é o cara de Far From Madding Crowd, aquele com cara de homem que a gente pisa, chuta, larga, mas é gostoso e a gente sabe que é fiel e estará sempre ali – eu quero), que torna-se um personagem óbvio de contraponto a ele para a necessidade de amor masculino da Alicia, e ao mesmo tempo, também óbvio, a argumentação de que “ele era assim desde criança”. A alegria dele ao decidir pela cirurgia, as agruras do pós-operatório, a esperança de um dia ter filhos, tudo tão assimilado pelo trabalho do Redmayne que a gente se emociona junto e torce por ela. E é louvável (e, pelo que vi, a comunidade trans gostou também por isso) que não tenha caído na questão da atração sexual (ele nem demonstra sentir-se atraído por homens) pura e simples, mas mostrando como ela é por dentro, pelo viés da sensibilidade dela. Achei um excelente filme, com méritos que nem as indicações reconheceram à altura – mas diante do apanhado geral das escolhas, é fácil entender que, acima das questões cinematográficas está uma política e uma mentalidade que dificilmente daria o braço a torcer a um filme como este, infelizmente. Daria todos os prêmios que ele concorre (e mais alguns).
22. Steve Jobs: para um filme é uma baita peça de teatro. São três atos (1984, 1988 e 1998) encenados no stage (consciência) e backstage (inconsciência), nos quais um já falecido Steve Jobs se vê às voltas com o seu passado, dramas familiares e interpessoais, e os dirime ao dialogar incansavelmente com seu alter ego que é a Kate Winslet. Mas o crápula tem um final apoteótico ao ser aplaudido tal qual um ídolo do rock e perdoado pela filha porque faria (como fez, já o sabemos) o que todo filho esperaria de um pai: colocar mil músicas no nosso bolso. E fim. E aí como bom teatro tem incansáveis (para o espectador que tem todo o direito de cochilar em alguns deles) diálogos (ou seriam monólogos com a própria consciência? teatro gosta dessas coisas). Fassbender nos dois primeiros atos está o Roberto Justus escarrado (e dá uma agonia filha da mãe vê-lo). No terceiro ato, mais fisicamente do que na atuação, ele encarna o Steve Jobs que já foi delineado nos atos anteriores. Kate é baita atriz, mas, como Jennifer, é queridinha da Academia e talvez a indicação só por isso (já disse, Alicia wins). No mais, eu não gosto de teatro, então por mim pode passar. (caso excepcional a adoração ao mito do Steve Jobs, coisa que nunca entenderei, que um estudo aprofundado da juventude e do capitalismo de hoje jamais me farão compreender)
23. Shaun, The Sheep Movie: uma fofura. Sou suspeita, amo ovelhas, amo bichos, achei tudo uma gracinha e até como roteiro é superior ao Inside Out. Estou curiosa pelo brasileiro (assistirei este fim de semana) porque acho que os outros não me cairão nas graças. O detalhe de não ter falas é bem especial, como a relação do ser humano com filhotes e com a própria juventude. Gostei pacas (assim fica claro?).
24. Anomalisa: o horror, o horror. Sei lá, de embrulhar o estômago. Perderia a classe e diria “grande bosta”, mas eu sou educada. Não tenho tolerância pra filme com pretensões, sei lá, existencialistas contemporâneas. E dizer que a piada que dá origem ao título é com o Brasil.
25. What Happened, Miss Simone?: Então a melhor parte do Oscar ficou com os documentários. Instigante, no mínimo. Aliás, sabe o americanismo, a branquidão do Oscar, o machismo? Então, tudo aqui vai ao chão. Não é o melhor documentário, mas é uma boa obra de pesquisa de arquivo. Incomoda MUITO a filha (Produtora Executiva, por sinal) e o marido – além da falta de mais personagens, pois além dos dois, só temos mais uns dois amigos e Nina merecia mais depoimentos. Mulher negra, que sofreu violência doméstica contínua, explorada profissionalmente, que desencadeia doenças e distúrbios, que encontra na luta por direitos sociais e políticos a razão da sua arte (e alcança níveis de pouquíssimos) e declara sua insatisfação com o país onde nasceu (a frase dela sobre os EUA viver uma mentira é sensacional e, sim, verdadeira) e para onde decide não voltar. A personagem em si (e alguns dos melhores documentários prescindem deles) é extraordinária, mas (tem um mas) o documentário deixa a desejar em relação à visão porque restringe muito às mágoas da família. Bom documentário riquíssimo em material de arquivo (a melhor parte). Que mulher, que vida.
26. Cartel Land: Sensacional. Mireles é um baita personagem (o que eu disse acima?). Fotografia impecável, uma produção esmerada, ao todo. Diante das dificuldades de se fazer um documentário desses pra mim já está acima dos outros. É americanóide? Não, ele questiona o americanismo da fronteira, ele expande as fronteiras pessoais de quem vive lá. São um pouco chocante (e num momento parece que explorará isso desnecessariamente) as atrocidades dos cartéis, mas é só mais uma das formas de humanizar as peças envolvidas em todo o jogo cruel da fronteira. É tão bem dirigido, tão ousado (em acompanhar as missões, inclusive, que poderia ser só uma arma de gênero de ação), que a gente chega a esquecer que há um documentário, uma obra, uma intenção. Eu sou apaixonada por documentários, mas fiquei um tanto afastada e foi uma delícia me reconciliar com eles no drama tão vívido de Cartel Land. Nele há tudo o que faltou em Spotlight, Mad Max, The Big Short e outros – ficção, aprenda. Meu favorito, sem dúvida. Eu até deveria falar mais, mas é tão bom que ainda estou pensando.
27. Amy: duas coisas, simples assim: não há nada ali que a gente já não soubesse (até mesmo eu que não fui nem sou fã, mal conhecia umas duas músicas dela, não fiz questão nenhuma de acompanhar a carreira – mas o mundo fez por conta); e, justamente por isso, em mais um documentário todo feito com material de arquivo (inclusive de momentos muito íntimos) não houve o questionamento ou problematização da exploração da imagem dela – foi o que eu senti falta ao acabar. Desde o início há material de arquivo, festinha com as amigas, gravações em estúdio, viagens, a intimidade do casal, tudo, tudo, tudo, o pai que contrata uma equipe para acompanhá-la numa viagem de “recuperação” (e ali é o ÚNICO momento onde há um fôlego para a questão da exposição mórbida da personagem, quando mandam parar de gravar e o cara só finge e abaixa a câmera enquanto pai e filha discutem). Não há nada da vida dela que a gente já não soubesse, e é fácil associar a morte dela a isso. A vida dela não era… dela. Todos os fãs, todos os papparazzi, todos que fizeram piadas e entrevistas e corriam atrás dela na rua são culpados (sim, aquela criatura horrível com quem ela casou, também). Nem dá espaço pra gente questionar o marido e o pai, a culpa da exploração pelo dinheiro e sucesso (tal qual Nina, infelizmente) e a queda sem volta pelas drogas (breves momentos e depoimentos do marido causam uma revolta, mas tudo muito de leve), ou para tentar uma aproximação com a Amy como mulher (a bulimia é contada pela mãe, pela médica), é sempre ela pelos outros (como sempre foi pela imprensa). Então, sim, o documentário falha gravemente. É tão infeliz que exibe o corpo morto saindo da casa. É um urubu, literalmente, sobre o cadáver dela (além de associar a decadência profissional diretamente à morte, mas ela teve uma recuperação antes de morrer, tanto que esteve no Brasil). Tenho pena dela, ser explorada até depois de morta – tal qual como foi em vida. Ela merecia outra coisa, outra visão, alguma interpretação. E apesar da grandiosidade que alcançou em vida (que ela não queria nem deveria ter tido), com letras tão, mas tão, pessoais e num linguajar muito próprio, talvez a obra em si não perdure mais do que o mito (construído com a própria vida). Nem de longe merece ganhar – em honra, inclusive, a ela.
28. When Marnie Was There: mas o que que deu na Academia de escolher taaaaanta animação deprê?! Inside Out (“Divertida Mente” que de divertida não tem nada), Anomalisa, este e o brasileiro, só depressividade! Deuzulivre, gente! Adolescente depressiva que se sente renegada e uma história que envolve fantasmas e sei lá como se chama, que a gente mata tudo bem antes de explicarem mastigadinho. Chato e depressivo. Por isso continuo com Shaun. Não tenho muita tolerância, já disse, com essa depressividade toda. Muito contemporâneo pra mim. Gostei da animação, nem parece aquelas coisas quadradas japonesas, mas não deu.
29. O Menino e o Mundo: triste. Além do final óbvio (que quase mata o argumento), mergulha naquela máxima de que filme brasileiro tem que ter favela, futebol e carnaval. Poderia ser mais criativo, né? Não gostei. Não me agradou a depressividade, nem os desenhos, nem os personagens (acho que nada), nem a trilha. Desanimador.
30. Huundraaringen Som Klev Ut Genom Fonstret Och Forsvann: muuuito bom! Leva cabelo e maquiagem e poderia levar mais. O filme mais divertido de verdade entre todos os indicados! Tudo de primeira, uma baita história, atuações divertidas. Daqueles indicados que valem uma dúzia de chatice que a gente assiste.
(já é sábado, tenho aqui o War e The Look of Silence, quase completaria docs e estrangeiro – falta El Abrazo de la Serpiente, Saul Fia e o doc ucraniano, quero muito vê-los; não assisti (ainda) os indicados à trilha, mas já tenho alguns aqui, não perderei (50 Tons e 007 não), pois Selma foi inesquecível e injustiçado – tudo para depois da cerimônia)
(O post, na medida do possível, será atualizado – só estou naquela dúvida: o Oscar é neste domingo ou no próximo? É que estou meio perdida no calendário. Se você leu até aqui, meu obrigada, porque levei baita tempo escrevendo tudo isso.)
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