A partir de hoje

Agora é a vez do tempo. É declarar Carnaval o ano inteiro até o fim do milênio. É rever o mapa da vida, revivê-la todinha e jogar os dados, apostar na roleta e seguir caminho sem volta. É carregar o único peso da mala entulhada de sonhos – aqueles tão antigos, os novinhos em folha e os favoritos: os impossíveis. É rebater sorriso no espelho, encontrar manchas na pele, nem lembrar do que foi uma ou outra cicatriz.

Agora é a vez do tempo. É pedir a benção e agradecer e afirmar “eu creio”. O passado começa agora: e é tão mais fácil viver. É nunca mais não querer ter por medo de perder. É perscrutar cada canto em busca do que deixou pra trás. É conhecer o gosto do veneno do demais e a anemia do de menos. É abusar do risco – mas só os pequenos. É ansiar, tremer, chorar, insoniar, resmungar só se for charme.

Agora… agora digo que é a vez do tempo. A partir de hoje, se eu quiser, ele passará voando. Se for do meu gosto, ele cairá feito garoa. Se me der vontade, num estalo poderei pará-lo. Só se chega aqui sem esquecer de si. A gente é o que é, não a carcaça, o mundo de fora, é o que tem lá onde a alma aflora. Pra quem chega até aqui e tem coisa diferente para dizer de si, perde o trem e nunca será a vez do tempo.

Agora a viagem é no e com o tempo. Posso mudar de fantasia todos os dias. Darei a roupa do corpo se perder no jogo, atirarei as moedas aos céus se quebrar a banca. Que venha o tempo, nele eu confio que cuidará de mim com zelo.

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