Interlúdio

 

Chego sem aviso. Nunca te fiz promessas. Entrelaça-te nas minhas pernas. Sou a amante desalmada que partiu sem palavra. Trago meus problemas e partirei com eles: tu não os resolve, mas me alivia o fardo. Venho sempre com pouco ou quase nada de roupa – é contigo que sinto-me livre. Reclamam da tua frieza, ela me revigora. Passo horas – horas não, que contigo não sei contá-las – nos teus braços a rodopiar, sonhar. És inclemente, me puxa, me joga, me abraça afogado. Saio exausta, sem fôlego, caio no chão enquanto a tontura não passa. Me deixas exausta. Exausta, exaurida, acabada. E é como gosto. Vim te ver, de novo. Tinha que pôr a cabeça e a alma no lugar. Logo te abandonarei de novo e, vê, levarei mais alguns problemas. Não me importo. Contigo não sinto nem o peso do corpo. Me abandono contigo à sensualidade extra das manhãs, te procuro infalível nas paixões desesperadas dos finais de tarde. És minha segurança na vida – ninguém concordaria. És a única segurança que quero ter na vida – porque de segurança não preciso. Vê o mundo, muda sempre. E tu, não, meu ponto de equilíbrio. Me arrebatas trançando minhas pernas em ti. Puxas o meu cabelo. Me fazes tropeçar. E eu sorrio. Tens meu melhor sorriso. Nunca fizemos promessas um ao outro. Se te deixo nunca foi por querer. Só a ti sempre fui fiel. Enquanto tu deleitas tantas outras. E não me importo. Me deixas o corpo dolorido, a pele mais bonita, o olhar lânguido. Sou toda tua como nunca fui de nenhum outro. Seja justo, não te procuro só nos meus piores momentos. Tens minhas mais doces alegrias, é a ti que procuro quando tenho algo a comemorar. Conheces cada risco da minha pele, cada canto escuro da minha alma, cada prazer de todas as cores. Não me conheço como tu o sabes. Às vezes te procuro embriagada, digo coisas que esquecerei e me hipnotizas sem levar em conta meus desatinos. Tudo passa. Já me viste, mais de uma vez, chorar. Só tu e Deus. Tudo passa. Só por ti faço drama, atiro vasos contra a parede, esbravejo más palavras. É a tua falta. Só eu sei como me fazes falta. Não tem lembrança, nem foto, nem nada que te faça mais próximo. E a amante volta, larga tudo, vem sem avisar, se ajoelha ao te rever. Conta os problemas, meu bom ouvinte. Só tu me ouves. Te confesso as dúvidas e as angústias. E te ouço – ah, que deleite. Não sou de promessas. Nem te digo, está certo que sempre voltarei – um dia para ficar, quem sabe. És minha melhor metáfora. Se fosse definir carícia, diria: tu. Vais me confinando no vai e vem da ponta do dedão do pé e subindo, subindo… não sobra nada de mim. Dou risadas. Que me tiras do sério e da tristeza. Me tiras do chão. Me tiras o chão. Quando me devolves à vida, menina birrenta a refrear o instinto de voltar aos teus vais e vens. Não me pedes promessas. Eu jamais as faço. Lá me vou novamente, não voltarei daqui a pouco, desta vez. Quero teus dias de ressaca e de calmaria. Esteja preparado, aparecerei qualquer hora – que nossos intervalos sejam cada vez mais curtos. Quero te trazer conquistas a comemorar, quando eu voltar, mas não me importo. É no teu colo que, se precisar, eu choro. Não há promessas. Te levo sobre a pele e aqui de novo estarei em breve.

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