Quem dera fosse a chuva miúda
a lamber nossas noites amareladas
Não seria o dinheiro que não dá
em árvore nem cai do céu
(diria meu pai)
Nem todas as conquistas que eu
sonhei para este ano passageiro
Nem as respostas que você me pediu
naquele dia de vento forte e quente
diante do mar agitado
As coisas não caem do céu, assim
As coisas não caem do céu
assim, do nada
a resolver nossos problemas
a dar chances mesquinhas
a encurtar distâncias
e expandir possibilidades
Quem dera fosse uma neve inédita
a embranquecer nosso Natal tropical
Não seriam doses de paciência
ou feriados prolongados
nem morar num barco a vida inteira
nem preocupar-se com a hora
Não seriam as alegrias a despeito
das frustrações doentias
nem os medos que carrego aqui
a burlarem-me as veias
As coisas não caem do céu, meu bem
As coisas não caem do céu
como queremos
a nos dar tardes quentes
a nos presentear noites frias
a nos deleitar com temporais
e nos banhar: no mar e na chuva
Quem dera fosse o sol escaldante
a atear fogo na tua cama de lençóis laranjas
Não seriam sete dias
ou os cem quilômetros
nem um navio a te levar
nem eu a me olhar sem espelho
Seriam nossos sorrisos
a inspirar-nos poesia
e a julgar as decepções da vida
numa tábua desmedida
As coisas não caem do céu, dizem
As coisas não caem do céu
por acaso
a erigir abraços de confiança
a sufocar o momento errado
a ondear esperanças
e caminharmos juntos.
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