Ele deixará suspiros de lamento pelos dias não terem sido ainda mais longos. O Verão chega e abre as portas para a esperança. Talvez a única coisa que hoje nos falta. As sombras espalham-se pelas nossas vidas e somente o sol dilacerante da alta temporada de calor para espantá-las. Dirão que não. Enganam-se. O Verão é alegria em potência. É força à espera dos desânimos. Nem todos irão à praia, nem todos conseguirão o bronzeado perfeito, nem todos terão férias. Mas a todos é dada a chance de se redimir dos seus desalentos. A todos é possível macerar suas mazelas ao belo sol.
E se chover? Se chover a gente toma banho de chuva e fica na varanda vendo os raios desenharem os céus tumultuados. E se fizer frio? Se fizer frio a gente caminha pela praia, de moletom, e depois fica enrodilhado no sofá debaixo das boas cobertas. No Verão, até a chuva e o frio passam. Não passará a vontade de ficar junto a quem se ama – que essa não deve passar em nenhuma Estação. Nem que sejam as doces paixões de Verão. (não esqueçam jamais que elas não subirão a Serra) Sugiro sempre apaixonar-se na Primavera, pois ficamos menos suscetíveis aos amores fugazes e ardentes do Verão – e colocamos à prova o amor que supera distâncias e ausências. Se o teu amor aguentar um Verão de provação é sinal de que ele aguentará muitos percalços da vida.
Às 7h44 o peso do mundo aliviará nossas costas. Quereremos mais vento e menos roupa. Há algo de versos brilhantes rodopiando pelos jardins e pelas ruas. Sentiremos uma vontade irresistível de ser quem somos – sem máscaras, titubeios e sorrisos fracos. Quem é de banho de mar, tomará mais banhos de mar; quem é de cerveja gelada, tomará muitas cervejas geladas – e desejamos que todos em paz. E até quem é do Inverno perceberá a graça do Verão numa criança brincando feliz com a água fresca de uma piscina ou a fazer castelos de areia sem suas preocupações filosóficas inerentes.
Mas, como todas as Estações e como os castelos de areia, este Verão um dia findará. É neste momento que não consigo gostar das despedidas e dos finais. Peço que se me virem por aí pelo fim do Verão, me dêem um abraço. É difícil superar o fim, a cada fim, do Verão. Notarão meu mau humor, minha tristeza súbita, minhas reclamações, meu desgosto pela sua Estação vizinha. Dele sempre guardaremos boas recordações, que são traduzidas em fotos, gargalhadas e as marcas do sol na pele. Por que falar do fim justo agora quando ele começa? Para não esquecer de aproveitá-lo a cada minuto, a cada dia, a cada onda, a cada companhia. Deixemos a partida para depois, até porque seu primo, o veranico, aparecerá ao longo do ano – e preferiremos as estradas cheias em direção ao litoral num fim de semana.
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