Era pra ser melhor. Mas, dizem, só temos essa vida. E é dela que temos que fazer – não tirar – o melhor. Às vezes dá mais trabalho, raramente quase não depende de nenhum esforço. Eu começo aqui e em duas linhas quero desistir, pois cansaço, sono, uma certa tristeza me invade. Mas o caminho trilhado é sempre longo. Não se chega a nada bom em dois curtos passos. E amanhã nunca é uma certeza – pelo menos, até o momento, tenho certeza que não conseguirei tempo para terminar e publicar este texto, portanto, é melhor que o faça agora. Enquanto escrevia a frase anterior me veio à memória a imagem de um sonho que tive, faz tempo. A cabeça funciona assim, sempre tão mais rápido do que esses dedos que deslizam céleres pelo teclado ou ainda mais veloz do que este corpo que implora por cama – anda viciado, eu diria. O sonho, só para esclarecer, não tem nada a ver com o que se passa agora: talvez apenas saudade de dormir, ou de sonhar, ou uma sinapse fora do lugar.
É pra ser melhor. Tem que ser. Sem nenhuma obrigação, que fique claro. Tem que ser porque queremos que seja. Queremos que seja melhor para nós. “porque merecemos”: não chegaria a tanto. Porque, pelo bem e pelas boas ações, temos que fazer o melhor. Não cabem acusações ou discussões. Há o reto a seguir sem desvios. Eu lia esses tempos uma crônica do Saramago, que me fez uma bela companhia, na qual ele falava de como o escritor dá vida ao entorno dele, ao escrever. Como um mundo surge, e aqui solitária neste oficina frio e mal iluminado, e preenche minha visão de mundo – a qual eu dissemino porque as gavetas são poucas e já estão cheias. Talvez ele falasse também disso, dos autores que não são publicados. Ou li naquele jornal de literatura, agora estou confusa. (perdoem, passa das 22h e a cabeça a rememorar sonhos, a desejar sono) Mas, vejam, extraordinariamente há uma anotação aqui que comprova a ligação destes dois pensamentos. É em um bloco que eu deveria carregar comigo – estou, novamente, tentando.
É melhor. Não preciso me enganar, é sim. (tomei um chá de cidreira e laranja, acordada por milagre no momento – daqui a pouco transcrevendo sonhos ao vivo) É porque começou diferente. É porque eu, finalmente e pela primeira vez, estou disposta (e me empenhando, juro) a fazer e ser melhor. Só por isso já valeria, mas não basta. Sou exigente – todos concordam. Dizia lá o Saramago que o cronista é chato, e nada mais chato do que a cronista ficar falando em sono (contagioso, só pode, tomem cuidado) a toda hora. Somos chatos porque evidenciamos o que ninguém quer ver. Porque pegamos o sono e trazemos para o meio dessas páginas enquanto acreditamos que devemos ser melhores – dando o exemplo, diga-se de passagem. Anotei aqui que o Affonso não é um cronista chato, mas, me desculpem, não sei qual a associação que eu fiz no momento da anotação (por isso que não consigo manter o hábito da caderneta de anotação, as idéias não funcionam depois). Talvez tivesse algo interessante a dizer. Leiam-no e depois me digam se vocês entenderam qual a minha idéia, mas antes leiam o Saramago. Há algo, eu garanto.
Acabo de fechar a caderneta (e colocá-la na gaveta quando ela deveria ir direto para a bolsa) e nela ainda há, pelo menos, umas três idéias de texto – uma descartada, pois o tempo condena ao desuso as mais prementes necessidades. Senti falta de escrever. E é – sempre – preciso escrever. Sempre e sempre. E nem é o tempo. Nem a falta de idéia (nunca). Ou o vazio da experiência (jamais). É minha falta de compromisso. Condenada e julgada. Minha penitência é o próprio crime. Avisem que voltei e nunca deveria ter me ausentado, eu sei. E é nesse turbilhão que a vida segue (e é como eu gosto que ela seja). E que estamos bem. E que sejamos melhores.
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