Com licença, tudo bem? Desculpe-me por incomodar. Eu vim só reclamar de quem reclama. É que não aguento mais. Como vocês conseguem – reclamar de tudo, o tempo todo? Reclamadores de plantão. Ganham dindin pra isso? Porque, só pode. Não quero crer que reclamam de graça, estariam ricos! Mas eu não aguento mais. Primeiro tentei ignorar, assim, de boa, com meu sorriso de sempre no rosto e um comentário ou outro a fugir do assunto. Depois, mantive o sorriso, preferi deixar passar, fiz que não ouvi. Agora não tem mais condições.
Primeiro achei que a pessoa estava num dia ruim, sei lá, aquela dor de cabeça, uma noite mal dormida, alguém doente na família. Mas, aí, como explicar tanta gente tendo o mesmo dia ruim? Todos do mesmo signo, quem sabe. Depois achei que era o ambiente, pô, ninguém quer trabalhar sábado à tarde, ou, sei lá, a pessoa está nessa profissão mas não queria estar. Por último, já meio pelas tampas de revolta, desconfiei que são todos infelizes. Mas, Deus do céu, tanta – mas tanta – gente infeliz assim a minha volta? Será se?
Eu queria dizer isso mesmo: não dá. É o tempo todo. Todo mundo. Dá pra ser infeliz e não reclamar o tempo todo também, tá? Dá pra estar com baita azar e problema e ainda sorrir e fomentar um ambiente agradável (minimamente respirável) ao redor. Confiem em mim, dá sim. E, ó, vale ouro (se não, ao menos vale mais do que reclamar): reclamar e reclamar e só reclamar NÃO muda absolutamente nada. Nada. Nadinha. Nadica de nada. Vão por mim. Não muda. Reclamar é totalmente inútil. No máximo, você consegue se tornar um chato e ganhar algumas doenças (porque, sério, tanta coisa ruim da boca pra fora só pode ir contaminando por dentro). Reclamar não faz diferença nenhuma. Repitam comigo: n e n h u m a.
Eu estou aqui, eu sei, reclamando. Mas, eu sei que vocês não podem ver, eu estou sorrindo. É aquela coisa de querer abrir o coração, sabe? Então. Vocês me expliquem como é que pode esse povo todo reclamando de tudo, de qualquer coisinha, o tempo todo? Desanima a gente – e não pode. Ou eu que estou numa onda de azar, me relaciono mal, estou frequentando ambientes nocivos. Quem sabe. Eu levo a vida numa boa, sabe? Com esse sorriso no rosto. Se o dia vai mal, coloco umas músicas aí num volume meio alto, que é pra silenciar os pensamentos ruins e deixar a vida no prumo. Ou peço colo. Ou leio. Sei lá, pode comer também. Uma conversa boa, ajuda, viu? Só não pode ficar ressecando os ouvidos alheios com suas infelicidades.
Aliás, dia desses quis xingar uma criatura e me saiu um “ô, seu infeliz!”. Eu não sei nem xingar. Infeliz, pra mim, seria um xingamento monumental. Mas, vejam meu azar, o cara era desses que sequer sabem o que é felicidade. Daí xingar de infeliz é tiro no pé, né. Vai que esse povo todo reclamando, sei lá, só uma hipótese, nem percebe que só reclama? Posso gravá-los falando e daí mandar o áudio para uma avaliação consciente? Ajudará?
Mas, viu, já estou terminando. Passei só pra dizer isso mesmo e mais uma coisa: coloca esse sorriso no rosto (tem a canção, lembra?). Experimenta não reclamar. Um dia. Depois dois, três, quatro… Experimenta reclamar só sobre o que realmente importa, para os órgãos ou pessoas responsáveis. Não fica na ladainha chata. Toma atitude, quando estiver mais seguro de si. Aí fará diferença. E se o dia começar mal, se você odiar o que faz, se tua vida é uma lambança (estou evitando palavrões), se tem amor não correspondido ou é mal-amado, se o dinheiro ainda não caiu na conta (ou quando cai não dá conta), se chegou a fatura do cartão de crédito, se está tendo que trabalhar mais e quase não descansa, se a pia está vazando ou o chuveiro queimou e teve que tomar aquele banho gelado no inverno: sorria. Ria. Se divirta. Sei lá, pede ajuda. Conta uma piada. Deixa pra amanhã. Repensa a vida. Mas, eu queria pedir, não reclame, tá? Posso confiar? Obrigada.
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